quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vida Sentida

A todo instante estamos em confronto, em batalha. Nosso corpo diariamente ingere, digere, respira, inspira, rejeita, absorve, combate. Nossa mente está sempre exposta a variadas experiências: sensoriais e aquelas provenientes da razão e do alimento que fornecemos a ela.
Vez ou outra confrontamos nossos maiores temores, nossas mais íntimas e secretas paranóias, nossos “inimigos ocultos”. Mas é a mente, a razão, que nos liberta do sofrimento das emoções de efeitos patológicos, ou seja, aquelas que surgem sem qualquer filtro e neutralizam os recursos da mente humana.
As emoções, embora essenciais aos experimentos da vida, na percepção da realidade e no convívio em sociedade, uma vez sentidas visceralmente, reduzem o campo de visão e faz do corpo, escravo. Pânico, angústia, ansiedade e o implacável medo... Persistente. Esta emoção, eivada de efeitos patológicos, fragiliza e adoece mente e corpo.
A dinâmica da vida, seus movimentos, suas curvas, cruzamentos e obstáculos são todos eles produzidos ou “acontecidos” em função das escolhas que fazemos. Não quero com isso afirmar que controlamos cada evento ocorrido ao longo de nossas vidas. A idéia de controle, aliás, é pura fantasia da realidade. Entretanto, não há como negar que, em alguma medida, guiamos nossas vidas em direção ao que acreditamos ser o destino que escolhemos como uma “boa-versão-de-nós-mesmos”. Traçamos, por assim dizer, uma linha, reta ou curva, mais longa ou mais curta, rumo às nossas escolhas, e para isso, nos preparamos da forma que acreditamos ser necessária à obtenção do “resultado final”. No entanto, não há como prever, com precisão, as variáveis que vão surgindo e as ramificações que elas desencadeiam. É o que justifica, por exemplo, começarmos uma empreitada na expectativa de determinado resultado e de repente percebermos que esta mesma empreitada já não mais é uma versão interessante ou viável, apesar de a idéia inicial, que a tinha motivado, ter sido tão segura e certa. Daí o que se segue está no campo das emoções e tudo passará a depender da forma como sentimos e do que estas sensações são capazes de imprimir em nós.
A capacidade de atenuar estas sensações que nos dilaceram a alma, o coração, que destroem nosso corpo e nossa idéia de vida, nos acomete de um mal, um verdadeiro mal: o medo constante, perene, que se instala em cada pequena parte de nosso frágil corpo, que desenha a pior versão de nós mesmos. A vulnerabilidade de nossos organismos diante destes sentimentos e os efeitos que ela causa, são destrutivos. Doem os ossos, comprimem os músculos, curvam a postura, desmancham o rosto. A vida se torna imaterial e sem qualquer sentido ou razão. Tudo se torna desnecessário, efêmero... Fugaz. O traçado desenhado em direção a boa versão de nossas vidas se apaga e nos perdemos por completo. A emoção tomou conta de tudo, deformou a razão e a fez trabalhar a seu inteiro favor. Agora, o que era apenas sensação, ganhou o corpo de uma teoria, que a justifique; encontrou respostas e exemplos que a materializa, tornando-a verdade.
Todo esse “desvio” pode ser comparado a um defeito de fabricação de nosso próprio sistema biológico; uma espécie de herança genética da espécie humana. A boa notícia é que em cada um de nós está contida a solução, o remédio natural de combate ao esvaziamento da razão, pelas emoções.
O triunfo das emoções, à revelia das reações da razão, será combatido pela crença de que o traçado que desenhamos para nossas vidas, rumo à boa versão, é confiável e faz sentido. A razão, então, vai reorganizar nossas prioridades, filtrar medos latentes, expulsar os fantasmas plantados pelas emoções causadoras da patologia. Este evento se assemelha a um exorcismo, só que de si mesmo. É o reencontro das boas experiências, das versões anteriores que sintetizam e justificam nossa escolha, revalidando-a, tornando-a crível novamente.
Todo o corpo, então, relaxa, se torna sonolento e mole. Ficamos entregues ao conforto da razão, temperada por uma emoção suave, tranqüila, querida. Nossa mente nos acalma, propõe variadas soluções... Todas possíveis! Cada pergunta encontra sua resposta; os conflitos encontram a paz; o coração se aquieta e uma pequena euforia desponta. A vida se enche de esperança e o futuro volta a nos estimular a traçar novos desenhos e a escolher novas versões. Seguimos.

2 comentários:

  1. Onda que vem, onda que vai. Espuma que cresce e se esvai. Seguimos.

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  2. Linda da Joe! Emoções bem orientadas ou em parceria saudável com a razão ainda obedecem aos ciclos do ser. O pêndulo... e sem metáforas, não cessa seus movimentos. Nosso equilíbrio sazonal anseia pelo desequilíbrio. Nossas bases, felizmente, tremem! E louvemos as mutações ;o) Amo você !

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