sexta-feira, 16 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

Parecia Aero, mas era Açude!


O ponto de ônibus é um lugar interessante. Embora existam muitos pelas cidades, e sempre com muitas pessoas amontoadas, é um espaço totalmente invisível para quem tem carro. Quase um não-lugar! Vemos todo mundo passar, mas ninguém nos vê ficar!

É comum nas embaraçosas - e chatas - conversas de ponto de ônibus perguntarmos ao nosso companheiro de cativeiro, qual o ônibus que ele espera. Aliás, é daí que as conversas geralmente começam. E quem conhece o circuito sabe que existem alguns ônibus que são bem, bem mais demorados do que outros; o que pode nos colocar em vantagem ou desvantagem perante os outros confinados. Eu, por exemplo, espero o Aero. Sim, este é o termo utilizado por nós: “espero”. Falamos como gestantes! E o Aero é muuuuuuito famoso pela sua clássica demora. É que existem linhas que temporariamente podem estar mais lentas, por estarem circulando com frota reduzida, em períodos de férias escolares, por exemplo. Mas este não é o caso do Aero. O Aero demora muito há décadas! Já conheci senhoras bem idosas que me disseram que quando faziam o trajeto, há muitos e muitos anos, ele já demorava muito. Entendeu? Por isso quando digo que espero o Aero, recebo sempre um olhar de piedade e às vezes uma palavra de incentivo: “Olha, desde que estou aqui, ele não passou”. Claro que nem ouso perguntar a quanto tempo a pessoa está esperando, que é para me manter firme e crente. Quem costuma dizer aquela frase: “quem espera sempre alcança”, não depende de ônibus! No caso do Aero, então, é quem espera, sempre espera mais um pouco!

Tenho, infelizmente, longa intimidade com este assunto, pois apesar de ter tirado a minha carteira de motorista há 14 anos, nunca dirigi mesmo, de verdade, no dia-a-dia. E embora não tenha desistido deste intento, ainda ando de ônibus e continuo invisível. Sujeita à chuva, à lama, quando os ônibus freiam em cima das poças, à espera, às conversas insuportáveis, ao frio, ao calor, enfim... Desgraça!!

O universo de quem vive dessa espera é tão limitado que, veja bem, ficamos completamente felizes e agradecemos aos céus, quando ele, o dito cujo, aparece. Soltamos gritinhos!!! “Ai, graças a Deus, Aero!”. É como ser resgatado do purgatório! Dá um alívio! Sem contar os inúmeros tiques que desenvolvemos. Um deles é a pescoçada! Sim, aquele hábito de ficar se levantando ou erguendo o pescoço para frente a fim de vermos melhor o ônibus que vem vindo. Chegamos a decorar todos os tipos de ônibus, cores, letreiros, intensidade de luz, para, mesmo de longe, termos condição de identificá-los e nos posicionarmos no melhor local para adentrá-los. O nome “Aero”, por exemplo, vem escrito bem no meio do letreiro, com luz branca, ao invés da amarela. São sinais que vejo de longe! Porém, existe o Açude, que também é um nome pequeno, que começa com “A” e que recentemente apareceu com a mesma configuração. Daí, como ele passa beeeeem mais vezes do que o Aero gasto muitas pescoçadas em vão e sempre chego em casa com dores. Vai vendo... Além desse tique desenvolvemos também transtorno obsessivo compulsivo - TOC. Quando vejo o Aero, em situações em que não estou no ponto à sua espera, tenho vontade de sair atrás dele. Por exemplo, quando estou num barzinho com meu namorado, ou no carro dele, vejo o Aero passar e sinto como se o tivesse perdido. Terrível, mas verdadeiro.

Para quem tem carro e quase nunca, ou mesmo nunca, andou de ônibus os pontos de ônibus são nada. Nunca param para pensar neles ou em quem está neles e provavelmente acreditam que, caso precisassem, um dia quem sabe, enfrentariam isso fácil, que é uma reclamação idiota. Por isso, em sua maioria, são tão sem educação com os que esperam, jogando água/lama em quem não tem para onde correr, negando a preferência para atravessar a rua...

Então vai aí uma dica para você, motorizado sem coração. Quando puder oferecer uma carona a um amigo, OFEREÇA!! Por mais que te dê algum trabalho, que te faça perder uns minutinhos, isso não é nada perto de quem espera 1h e 30min num ponto, parado. Preste mais atenção à sua volta e resgate um amigo do purgatório! Isso vale também para parentes e vizinhos, que são os campeões do ranking.