terça-feira, 7 de abril de 2015

Muito prazer, meu nome é velhice!


Ninguém te ensina a ficar velho. Esta é uma lição que se aprende só!

Desde o nascimento somos ensinados. Há sempre alguém para dizer o que devemos e não devemos fazer; há sempre alguma orientação nos guiando... "Não pode!", "Sorria pra mamãe!", "manda beijo, manda!", "dá tchauzinho!"... Os conselhos nos seguem por toda a vida! Nos acostumamos a viver com eles, a aceitá-los como demonstração de afeto e cuidado.

Mas e quando chegamos lá? Quando, em tese, já fomos orientados o suficiente para escolhermos e agirmos por nossa conta e risco? Quando sobre nossas vidas já não recaem cobranças ou expectativas? Quando ninguém mais espera nada de nós, além de nossa existência

Bem, a quem foi ousado o suficiente para sobreviver a tudo isso, resta a VIDA! Talvez a vida em sua forma mais genuína e plena. A velhice é liberdade! Longe das exigências do emaranhado social, da "mais valia", envelhecer é vitória! Não se espera mais produção, procriação e nem se exige sucesso. O presente da velhice é a liberdade! "Você chegou lá! Agora, ninguém mais te enche o saco!".

Entretanto, acostumados que somos a tanta orientação, expectativa e cobrança, entendemos mal a lição! Achamos ruim, nos sentimos abandonados, quando em verdade é o oposto! Estamos livres! Livres pra chutar o pau da barraca e, até morrer, se quisermos! Não temos mais obrigações com nada e nem ninguém! "Vocês que se virem aí!". 

Ficar velho é assistir ao mundo por outro ângulo! É poder rir da piada antes do final, porque já conhecemos o final! É poder zombar da preocupação dos outros que levam a vida à sério demais e ficam chatos e doentes! A velhice é uma lição que ninguém nos ensina, porque exige criação e criação é contigo!! Não há ensinamentos para o fim, porque só sabemos discursar sobre "os muitos anos de vida que virão!". Ninguém tem receitinha pro final! 

A velhice é o último capítulo! É o Grand Finale! E pode ser sua chance de, finalmente, se encontrar com aquela doida(o) que está aí dentro e curtir a vida, de um jeito único! 

Mas pra isso, meu querido(a), você vai ter que rebolar, sapatear e entender que, agora, vai depender de você e da sua criatividade para continuar a VIVER! Porque velhice é uma lição que se aprende só!

*homenagem a minhas duas avós queridas, que aos 91 anos de idade, entenderam muito bem o recado! Amo vocês!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Uma pausa para a liberdade!

As férias são pausas em nossas rotinas, oportunidades para vivermos outras versões de nós mesmos; de sermos criativos. Mas em geral dormimos muito, o que consideramos descansar, ou programamos viagens, que por vezes nos cansam mais.
Claro que são cansaços diferentes: o do programa na praia e o do trabalho. O cansaço do cotidiano é pela prisão a que ele nos condiciona. A rotina, mesmo que de um projeto desejado, é rotina, é repetição de movimentos. Neste sentido as férias representam liberdade.
Minhas férias são curtas e nestes poucos dias que tenho optei por escolhas simples, porém inusitadas. A ideia é me deslocar e ver a vida por outras perspectivas. Para isso, só precisarei ser criativa e fazer diferente. Me determinei fazer coisas diferentes todos os dias! Não importa o lugar! Importa a ação envolvida e o movimento novo. Comprar livros de romance, ficção científica, ou outros que nunca compro; ler um livro no horto; ir ao cinema e ver um filme que provavelmente não veria; dar longas caminhadas pela cidade, sem a pretensão de me exercitar, apenas caminhar pela cidade, sem nada carregar. Ir leve e sem destino. Ou com destino, mas um destino novo. Coisas que deixaria para amanhã, que acharia bobagem, que não seriam "necessárias agora", mas que sempre quis fazer, são agora o alvo e têm toda a minha atenção!

O sentido da vida... A vida. O que ela é? O que posso fazer com a minha? Posso fazer muito mais, certamente! Posso fazer o que eu quiser... O QUE EU QUISER! É importante frisar o "querer", pois fazemos muitas coisas, ao longo de muito tempo. Pensar sobre estas repetições é importante, então. 

O passaporte pra vida é um só. Ainda que creiam em algo por vir, esta vida aqui, é uma só! Uma oportunidade única e especial! E em cada dia, nas 24 horas em que ele se divide, cabe mais de nós! O que fazemos por nós mesmos ao longo dos nossos dias, semanas, meses e anos? Ao longo de uma vida? O que fazemos por nós mesmos? Tapem os ouvidos, fechem os olhos! É de você, de nós, que estou falando! Não do que dizem os jornais, as revistas, as estatísticas, o mercado de trabalho, a sua religião, os amigos, a família... Não! Pergunto sobre VOCÊ, sobre MIM, sobre NÓS! A vida é feita de pequenas escolhas que fazemos diariamente; elas desenham o que denominamos passado e futuro, e nesse meio vamos indo... Vamos nos arrastamos, cumprindo papéis, representando! Se é pra representar, quero ser uma dançarina, oras! Quero sair por aí dançando, cantando... Não quero ir indo! Não quero "passar o tempo". Quero vivê-lo! Não vou gastá-lo assim, por nada!

Tirei férias e saí pouco de casa, é verdade, mas estou viajando... Ah estou! A maior das viagens, aquela que não tem volta: A viagem para dentro de mim mesma. Somente a partir de mim, posso ver o mundo! Não posso vê-lo a partir de mais ninguém! Por isso, nestas férias, estou me visitando, dando um "oi" pra mim mesma, me perguntando "como estou?", tomando um café comigo mesma e fazendo algo diferente todos os dias! Não importa o quê, importa o movimento!




sábado, 13 de setembro de 2014

Condição pós-moderna.

Acelera, acelera, acelera... E quando pára, cai entristecido. A semana inteira é assim. Chega sexta (ufa!) resolve sair. Vai pra rua, pra "balada", pra "night", pra desacelerar. Toma vodca com energético. Mantém o ritmo. Fala muito e muito alto. Fica surdo! Não sabe parar, não sabe ficar só, não sabe respirar!

Vai pra casa entorpecido. Acha que está relaxado. O coração está disparado. Não consegue dormir. Tenta. Não consegue. Entra em pânico. Pensa na vida que leva, na saúde que perde, na infância... Se olha no espelho e se sente um velho. Se estica, se empina, sorri. Mas quando relaxa o rosto, se percebe velho. O rosto se dissolve. O tempo é implacável e ele não o vê passar. Toma um valium e vai dormir.

Acorda sábado, às 16h. O sol bate na cara amassada. Noite mal dormida, vida mal vivida. Vai pro chuveiro e se esquece por lá. Deseja que o dia passe rápido e que a noite chegue logo. É a noite que ele se acha. Tenta assistir televisão, mas apenas liga o aparelho. Os dedos teclam com velocidade o celular. O telefone toca. O celular vibra. São muitas as mensagens, os emails, os convites. É requisitado pra festas e encontros. A noite promete! Escolhe bem o traje, se perfuma. Engole um enlatado e sai. Vai pra casa de uns amigos, para o "pré night". Depois? Não se sabe... Pra aquecer, toma vodca com energético. Mantém o ritmo. Fala muito e muito alto. Fica surdo! Não sabe parar, não sabe ficar só, não sabe respirar!

Vai pra casa entorpecido, acha que está relaxado. O coração está disparado. Não consegue dormir. Tenta. Não consegue. Entra em pânico. Pensa na vida que leva, na saúde que perde, na infância... Toma um valium e vai dormir.

Acorda e já é domingo. Se sente deprimido: "Amanhã já é segunda! Não fiz nada...". O sol brilha lá fora, mas ele não se sente disposto. As prateleiras estão cheias de livros, mas ele não se sente disposto. Há bons filmes na tevê, mas... Resta o celular que nunca dorme. Ele encara. Tecla rapidamente. O telefone toca. O celular vibra. São muitas as mensagens, os emails, os convites. É requisitado pra festas e encontros. "A noite nunca dorme!". Vai pra rua, pra saideira. Desta vez foi só um chopinho. Volta sozinho... Acha que está relaxado, mas o coração está disparado e a respiração ofegante. Não consegue dormir. Tenta. Não consegue. Entra em pânico. Pensa na vida que leva, na saúde que perde, na infância... Toma um valium e vai dormir.

Acorda e é segunda. Acelera...

Planeja viagens que nunca faz. Sonha viver um grande amor, mas não encontra ninguém para amar. Trabalha, ganha dinheiro, e não vê o tempo passar. Compra livros que nunca lê, equipamentos que nunca usa. Só anda de carro, pra ganhar tempo... Um tempo que nunca tem!

Volta pra casa, pro celular e pro valium.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

Nem cuspe nem giz!

A sala está agitada. Barulheira do primeiro dia, do primeiro período, do começo. É tudo novo! Os corpos se agitam. Vou chegando, me apropriando do espaço. Os alunos me observam, mas até que eu fale algo, sou uma intrusa. É preciso falar para quebrar o gelo. Começo, então, pelo começo. Apresento-me, vou com calma, papeando, sentindo a turma. Apresento o assunto com leveza, quero conquistá-los antes de me adentrar em temas mais complexos. Tudo tem sua hora e toda turma tem suas características próprias, sua temperatura. Por isso minhas aulas acabam sendo distintas para cada turma, apesar de o conteúdo ser o mesmo, quando se trata da mesma disciplina. Percebe-los é minha primeira lição de casa e levo-a muito a sério.

Não me lembro de ter querido algum dia ser professora. Nunca me imaginei assim! O mestrado me levou à sala de aula tão naturalmente que nem parei muito para refletir sobre o assunto. Parece que fui escolhida ao invés de escolher. Embarquei nessa e agora quero mais e mais. Tô viciada!

O período passado foi um divisor de águas, do que experimentei até agora. A disciplina era Direito e Cidadania para turmas de Engenharia de Produção e Civil. Pensei: Vou ter que fazer mágica para atrair o interesse desses futuros engenheiros! Fui com calma, sentindo a turma... Com o tempo passamos a discutir filosofia, política, ética, violência urbana, tráfico de drogas, desigualdade social... Temas complexos! Certo dia levei um livro para sala de aula: "Homens Invisíveis: Relato sobre uma humilhação social", de Fernando Braga da Costa. Uma tese de mestrado de Psicologia Social da USP, que virou livro e que descobri por acaso na biblioteca da própria faculdade. Que tema! Não pude resistir! Tinha que levar aquilo tudo para sala de aula! E foi o que fiz. Primeiro, queria que os alunos entrassem no clima do livro, pra isso fiz uma nota introdutória. Expliquei quem era o autor, qual havia sido sua experiência para escrever o livro (ele havia trabalhado com os garis da USP por 9 anos), sua motivação e tudo mais... Depois escolhi, à dedo, um trecho que fosse bastante significativo e que reunisse o espírito da tese em poucas palavras pra não ficar enfadonha a leitura. Ah, foi absolutamente fantástico o impacto daquelas frases! A sala parecia um santuário! O silêncio era tanto que vez ou outra olhava por cima do livro para ver se haviam dormido ou saído todos. Que nada, estavam todos ali, se entregando e se emocionando com cada palavra. A turma adorou! O tema rendeu muitas aulas depois. Não foram poucos os emails que recebi de alunos querendo saber mais, pedindo mais aulas sobre o assunto. Indiquei-lhes o livro para e muitos pesquisaram a respeito na internet e fizeram questão de relatar experiências pessoais. Foi um sucesso!

Desde então chego com um projeto em sala de aula. Uma ideia para ser absorvida, mas que está aberta a negociação. Claro, há o plano de ensino e os objetivos do curso, mas há também muito espaço para criação e é desta parte que mais gosto! Levo um roteiro e uma proposta e os alunos aderem e vêm comigo ou não. E é daí que partimos por outros caminhos - novos caminhos construídos a partir destes encontros.

Esta é a magia! Não vejo outra razão que me leve às salas de aula...

Lembro muito da minha mãe, de suas aulas, de seu empenho e paciência. Lembro também do meu pai e de suas aulas teatrais, cheias de gestos e exemplos que mais parecem roteiros de filmes... Bebo na fonte dos dois e na de muitos outros mestres, dentre eles, Gilles Deleuze, para quem "uma aula é uma espécie de matéria em movimento".

Sigo, pois, em movimento...









quarta-feira, 16 de abril de 2014

A "mulher da Vila" e a invisibilidade social.

Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda. Que palavras por palavras eis aqui uma pessoa se entregando. Coração na boca, peito aberto, vou sangrando. São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando”. Gonzaguinha

Uma terça. Dia 15 de abril de 2014. Ontem.

A Vila Santa Cecília não é o bairro por onde transito, necessariamente, de segunda à sexta. Trabalho no Aterrado e circulo pela cidade, por muitos bairros, mas raramente vou à Vila, de segunda à sexta.

Ontem fui. E num horário ainda mais inusitado: 11 horas. A essa hora, normalmente, estou, ainda, em algum CRAS, prestando atendimento. Mas ontem não foi assim.

Havia marcado com minha ortodontista, às 11 horas, e me atrasei. Mas fui. Encerrado o atendimento, e já que estava na Vila, fui almoçar no meu restaurante preferido: Mutirão. Meu dia mudou ali.

Ao passar pela calçada do Cine 9 de Abril e pegar a rota para subir a escada que leva ao Mutirão me deparei com uma mulher, aparentando ter uns 50 anos de idade, negra, em aparente situação de rua, caída sobre os degraus do cinema; debruçada sobre o chão, seminua e evacuando. Havia muitas pessoas no local, mas tive a sensação de que só eu havia visto aquela mulher.

Um grupo de homens conversava tranquilamente bem perto dali, mas a presença daquela mulher sequer foi notada. Num outro momento, uma mãe, juntamente com seus dois filhos, estava também ali perto, mas a cena não chamou sua atenção. Não havia nada (demais) ali. Ninguém a viu! Aquela mulher estava totalmente invisível!

Fiquei, por um tempo, parada, chocada. Despertei, então, e passei a mão no celular e comecei a fazer ligações, na tentativa de ser a voz daquela que estava invisível. Liguei para o telefone de colegas de trabalho, mas era hora de almoço e a maioria não atendia. Deixei recados, recebi ligações... Fui orientada a procurar pelo SAMU. Liguei. Falei com uma médica. Respondi perguntas estapafúrdias. Em vão. Não foram lá. Fiquei parada esperando. Não foram. Chorei. Me senti sozinha ali, com ela. “Como ninguém parou diante daquela situação?” Saí dali e voltei para o trabalho. Dividi minha indignação com as pessoas. Mobilizei. Fizemos mais ligações. Agora, para o abrigo da cidade. Prontificaram-se a ir lá. As horas passavam e não tínhamos resposta.

Finalmente por volta das 16h, a mulher foi vista; retirada daquele local e acolhida. Me ligaram: “Achamos a mulher da Vila, Carol. Ela está bem, agora.”

Enquanto acolhiam a mulher da Vila, eu estava no Fórum, para mais uma tarde de luta, de empenho. É preciso coragem para encarar as Serventias. Encontrei uma amiga e colega de profissão e conversávamos sobre Filosofia do Direito, sobre os princípios fundamentais da coisa toda; tudo aquilo que me fizera querer ser advogada e trabalhar na política da assistência social. Disse: “Se isso tudo aqui (me referia ao Judiciário) só existe para garantir que as leis sejam cumpridas, para que os direitos das pessoas sejam respeitados, o que é que estamos fazendo, quando isso não é o que acontece?”. Daí uma outra colega de profissão, que também estava sobre o balcão da Serventia, me respondeu: “A Dra é muito romântica. Também já fui assim.” Acho que não preciso descrever o que senti naquela hora, naquele dia.

É por isso que a mulher não foi vista. Não vemos mais nada! Estamos cegos, socialmente cegos! Mas a cegueira não caminha só, ela anda junto com a preguiça, com o preconceito, com a omissão, com o não-reconhecimento.

A companhia de alguém é sentida como uma influência capaz de transpor a já preciosa companhia de coisas, plantas ou bichos. Há certas experiências que não chegamos a alcançar senão em companhia de gente. Antropólogos, psicanalistas ou psicólogos sociais não cansam de frisar certas experiências para as quais nascemos mais ou menos preparados, mas que, fora da companhia dos outros, fora, sobretudo de uma comunidade com outros humanos, não germinam.” (José Moura Gonçalves Filho. Professor e pesquisador do Departamento de Psicologia Social da USP).


sexta-feira, 14 de junho de 2013

A melhor prosopopéia dos últimos anos.


Criei este blog em meio a turbilhões emocionais, como escape para tensões novas e antigas. Legal poder conceber um espaço de silêncio onde a voz sai em letras, provocando sensações as quais não tenho acesso. É como se abrir para um desconhecido. Não há referências!

Há 7 (sete) anos me expus ao desconhecido. Por um momento coloquei de lado meus hábitos e rotina e parti para uma escolha absolutamente nova. Resolvi que faria uma prova para mestrado! Pesquisei as opções, considerando distância, custo, e cheguei até a UFF, em Niterói. A opção foi pela Ciência Política. "Mas vc não é do Direito?". "Sou do mundo!", pensava... Mas não dizia. Deixava pra lá... Minha vontade e curiosidade eram maiores e me tomavam muito tempo!

Me preparei em um mês, lendo exaustivamente! Era o tempo entre a publicação do edital e a prova  discursiva. Treze livros compunham a bibliografia. Dentre eles, alguns autores que conhecia, muitos que só ouvira falar e outros absolutamente estranhos. Lancei-me com confiança! Decidi fazer, encarar, e a única certeza de que me recordo (e me recordo beeeem) foi de que tentaria tanto quanto fosse necessário! Fui...

Fiz a prova, calmamente, divertidamente... Gastei pra escrever... Demorei, curti! Estava alegre pela escolha, por ter ido... Por não ter ouvido os "Ihhhh... Será?". O resultado saiu dois dias depois. Passei! Pasmei! Tinha, ainda, a prova em inglês... Fiz. Mais chata, mas fiz! Passei! Não acreditei! Dias depois, entrevista na UFF. Uma banca com três professores, dentre eles um gênio (que foi meu professor depois), mas que, na ocasião, não fazia ideia. Fui muito bem recebida, com carinho e atenção (aliás, durante todo o mestrado foi assim), com sorrisos e estímulos! Me perguntavam e eu respondia. Conversa solta, fácil, tipo bate papo. Falar nunca foi problema pra mim! Rsrs Fim da entrevista, me despedi e parti pra rodoviária. A caminho de VR fui pensando.... Estava tão feliz!! Me lembro dessa sensação... A semana passou rápida e quando menos esperava veio o resultado final: PASSEI!! Era novembro e as aulas começariam em março do ano seguinte. Era 2006 e tudo ainda estava por vir... Muitas coisas... Tristeza, alegrias, aprendizado... MUDANÇAS!! Segui com confiança.... Confiança que virou tema de mestrado, que me acompanhou em todos os momentos dessa loooongaaaaa caminhada!

Hoje curto tudo o que vivi, me embriago de boas lembranças, desta sensação única de ter percorrido o caminho! Não consigo parar de agradecer aos meus queridos professores e amigos, Inês Patrício e Carlos Henrique, com quem compartilhei bons e difíceis momentos; a quem recorri quando a dor e a angústia tornaram-se parte de mim. A estes professores - no sentido que Deleuze nos dá, de empreendedores da vida -, que me confiaram apoio incondicional, retribuo com o passo seguinte, aquele que define o movimento de caminhar.

Doutorado aí vou eu! Novamente sigo com confiança em direção a uma nova escolha, repleta de novos desafios e novos aprendizados... Não há nada melhor do que a alegria de seguir a vida que se escolheu! E essa, é a minha escolha!!


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Foco superestimado



De acordo com o dicionário, “focar” significa manter-se concentrado; ajustar o sistema óptico para uma imagem mais nítida. E é daí que sigo... “ajustar para uma imagem mais nítida”.
 
Sinônimo de virtude, pessoas que se mantêm focadas são consideradas mais determinadas e seus objetivos, em geral, alcançados com maior eficiência. Correto? Hum...

Certamente que se o objetivo for alcançar a eficiência humana (tipo Tempos Modernos), retiro minha questão e levo o assunto ao botequim e à cerveja. Mas, pentelhando mais sobre o assunto, penso no foco como um instrumento, uma espécie de acessório para ser usado e abandonado, quando desnecessário. Manter-se constantemente focado, ou seja, com excesso de zelo a uma determinada imagem, também pode significar que outras tantas imagens estão sendo negligenciadas pelo seu sistema óptico. E isso soa mal!

Leva tempo para ajustar nosso sistema óptico! Selecionar prioridades requer conhecimento, observação, experiência... E em tempos tão midiáticos como estes nossos, de tantas urgências, onde o ajuste de imagens é imediato e a exibição do foco exposta ao mundo, sem muito critério, é interessante pensar nesta analogia. O foco, superestimado como virtude, sinônimo de competência e eficiência, exibe as imagens que escolhemos para nos representar. Mas também nos prende, nos torna reféns, nos limita!

Focar significa também abandonar. Deixar para trás muitas outras imagens, possibilidades e detalhes. Ao fechar nosso sistema num determinado enquadramento, estamos de certa forma delimitando nosso caminho, projetando, construindo, dizendo ao mundo quem somos e o que há em nós. Cada imagem escolhida representa o abandono de todo o resto. Este é o preço do foco!

Aprender a lidar com o nosso sistema óptico é aprender a colocar em foco imagens que nos são de valor. Saber quando abandoná-lo é aprender que há certas imagens que só poderão ser percebidas, plenamente, em toda a sua extensão.