segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dois meses

Passei só por passar, só pra relembrar meu último post, quando vi que exatamente hoje faz dois meses que não escrevo nada aqui e pensei: Isso merece um post! Um post sobre estar há dois meses sem escrever nada no próprio blog! Nem pensei muito e fui (estou) logo escrevendo, soltando os dedos no teclado, deixando as idéias correr, sem me preocupar qual direção tomar ou qual assunto, em especial, quero abordar. O pensamento fica mesmo nos dois meses. Em dois meses muita coisa acontece...

Há dois meses, por exemplo, fui a uma nutricionista e iniciei um plano alimentar! Meu motivo inicial era perder uns quilinhos, coisa pouca, mas necessária ao bem-estar. Dois meses depois me sinto mais leve, mais light, mais saudável... Mais feliz por ter executado ao menos uma "pasta suspensa" do meu arquivo lotado de "pastas suspensas"!! Claro que como uma típica virginiana que sou, faço planos... Planejo até os planos que farei! Escrevo sobre eles, avalio se são mesmo necessários e/ou viáveis, estabeleço metas e depois os arquivo em "pastas suspensas"! Nem todos são executados, mas gosto de ter opções!

Fico pensando... 2012 já está nos deixando e eu faço de TUDO para segurá-lo, num esforço vão. Os anos estão voando! Tudo parece estar mais acelerado! Me olho no espelho e vejo marcas de expressão, sinais dos 37 anos de idade! Mas o "arquivo de pastas suspensas" faz soar o alarme e como o coelho branco da Alice, saio apressada... "É tarde! É tarde! É tarde!"



Olho o relógio e já são quase 22h! É isso mesmo??? Mas já???
O "arquivo" me encara de maneira nada amistosa e reclama atenção! Dou-lhe razão e me despeço.




quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Vocatus ad"

Em uma quinta-feira de manhã, lá estava eu no CRAS do bairro São Luiz dando prosseguimento aos atendimentos do dia, quando, de repente, ouço um choro de medo, aliás, de pavor, vindo do corredor. O choro se aproximava de mim e junto dele uma vozinha suave dizia: "Ela não é médica, meu filho!" Mas o apelo da mãe em nada ajudou e o menino manteve-se inconsolável. Não demorou muito e bateram à minha porta. Abri, e quando o menino me olhou, desatou a chorar mais e mais alto! Começou a escalar sua mãe, tentando ficar o mais longe possível de mim. Eu, sem entender muito, olhei para a mãe e perguntei: "O que houve?" Ela, então, me explicou: "Ele pensa que a senhora é médica e está com medo. Ele não gosta de médicos!" Tentei, de diversas maneiras, acalmá-lo, mas sem chegar muito perto para não assustá-lo. Ele estava desesperado, tadinho! Vendo que nada funcionada, comecei a mostrar a sala, os papéis, a caneta, a mesa e falei: "Viu só? Não há nenhum remédio aqui, nenhuma injeção! A tia não é médica!" O choro reduziu um pouco, mas ele ainda estava inseguro, não queria que a mãe se sentasse e nem desgrudou de seu pescoço por um só segundo. Entretanto, já cansada e com certa pressa, a mãe foi se sentando e adiantando o assunto. Sentindo que não era mais o foco, o menininho acabou se virando no colo da mãe e me fitando diretamente os olhos com grave desconfiança. Ficou assim por alguns instantes. Enquanto atendia sua mãe ele me observava, agora, com curiosidade. Não havia nenhum sorriso, mas já demonstrava mais confiança. O atendimento caminhava para o fim quando este pequeno garotinho simplesmente me disse, como se, enfim, houvesse desvendado o mistério: "A tia é amiga da mamãe!"

Fiquei profundamente tocada por estas palavras! Lembrei-me do discurso que fiz em minha formatura, ocasião em que fui oradora e iniciei citando um célebre jurista chamado Carnelutti: "A palavra advogado vem do latim advocatus - vocatus ad - que significa 'aquele que é chamado a socorrer'. Também o médico é chamado a socorrer, mas só ao advogado se dá este nome. Isto porque há entre a prestação do médico e a do advogado uma diferença, que não voltada para o direito, é todavia descoberta pela rara intuição da linguagem. Advogado é aquele ao qual se pede, em primeiro plano, a forma essencial de ajuda, que é propriamente a amizade".

Eu sorri, ele sorriu e o dia valeu!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nossa deficiência de cada dia

Leio nossa Constituição Federal e me sinto habitar um paraíso. Um paraíso de democracia cintilante! O artigo 5 º me faz estufar o peito de orgulho: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, mas aí acordo, levanto da cama, engulo um café e saio a caminho do trabalho. No trajeto me ponho a pensar...

Fazia um belo dia, manhã ensolarada, bonita que só! Da janela do ônibus vi a cidade acordando, entrando no ritmo. Ao descer e tomar o caminho do trabalho notei uma senhora tentando se movimentar sobre sua cadeira de rodas, com imensa dificuldade. Ela estava bem a minha frente, lhe ofereci ajuda e ela aceitou. Fomos juntas até seu destino. Desviava um pouco do meu e por isso tivemos tempo para conversar; inicialmente, como estranhas, e tão logo, como amigas próximas. Evidente que nossa amável conversa foi interrompida inúmeras vezes para que pudéssemos desenvolver uma estratégia rápida de como chegar ao outro lado da rua, ou de como desviar de alguma “cratera”, ou simplesmente de como descer da calçada! Foram tantas as interrupções que, para podermos continuar a conversa, com alguma tranqüilidade, foi preciso tomar outro caminho, mais lisinho e plano e, claro, mais distante. Minha recém amiga compartilhou comigo sua rotina e sua luta diária para dar conta de atividades cotidianas e simples como a de caminhar. A cidade não está preparada para ela... AINDA! Os acessos às vias são poucos e os que existem estão gastos ou mal sinalizados. Muito do que existe para facilitar, mais causa transtornos do que outra coisa. Um exemplo são os elevadores dos ônibus. Poucos, dos que vi, funcionam e mesmo assim estão consignados à boa vontade do motorista, que precisa deixar a direção e ajudar o passageiro a subir. Uma verdadeira operação militar (nada inclusiva) diante da qual muitos desistem. Recordo-me de uma palestra em que ouvi um cientista político dizer ter ficado perplexo quando de sua viagem à Holanda, em virtude do número de cadeirantes que havia naquele país. Logo depois ele percebeu seu equívoco: não é que a Holanda possuía um grande número de cadeirantes, é que ali eles circulavam pelas cidades como todo mundo! O direito de ir e vir, ou melhor, de poder escolher aonde ir cabe a todos nós! É de cada um o direito de decidir que caminho seguir, e não da infra-estrutura da cidade! Igualdade é um princípio anatômico que deve tomar a forma de cada um de nós e não o contrário! De nada adianta assumirmos um compromisso como grupo se este compromisso não se sustenta em nossas práticas individuais! Somos todos cabeça, corpo e membros uns dos outros, como coletividade! Então, por favor, façamos a nossa parte! Se temos um pescoço, viremos a cabeça!

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fiando... Desfiando... Desafiando.

Algumas descobertas nos fazem mudar o caminho e não há como voltar! Tenho lido bastante ultimamente. Uma leitura retalhada, de vários trechos de livros e artigos, ao mesmo tempo. Esta pequena façanha me remete ao ofício de uma costureira, que confere unidade a diferentes remendos desiguais - algo como um patchwork; um trabalho a partir dos retalhos. Os diversos formatos e cores destes trechos ou pedaços vão compondo, uma vez costurados ou alinhavados, idéias e rumos, que retornam, de modo sustentável, às minhas ações diárias. Num destes trechos, recortes, pedaços, reencontrei Foucault. Já tinha sido apresentada à ele, anos atrás, na faculdade de Direito, mas não lhe dei grande importância na ocasião - certamente porque não estava preparada para ouvi-lo, fascinada que estava pelo Direito. Nosso reencontro veio pelo YouTube. Sim, esta pequena-grande ferramenta dentro da janela que é a internet. Acessando aos vídeos de alguns filósofos - buscando inspiração para finalizar minha dissertação de mestrado - caí nos braços de Foucault! De um jeito leve e alegre ele apresenta suas leituras sobre as instituições e o poder; sobre a figura do juiz e a loucura. Quem nunca assistiu ou leu, POR FAVOR, faça isso urgente! Mas pra quem, além de curioso, trabalha com o Direito, CUIDADO! O conteúdo é altamente transformador e, na melhor das hipóteses, você estará diante de uma pequena revolução! Se depois, extasiado, você se atrever a prosseguir nesta caminhada, aviso-lhe que é caminho sem volta! Impossível fazer audiências da mesma forma após ler o genial diálogo de Foucault sobre o juiz; impossível encarar o próprio Direito da mesma forma! A questão é que tanto sacolejo resvalou bonito em minha dissertação, já praticamente costuradinha e pronta! Como prosseguir agora? Tento alguns ajustes para adaptá-la aos novos retalhos, não posso mais prosseguir sem estas alterações, pois "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará a seu tamanho original" (Einstein). Não posso mais voltar atrás nem seguir, simplesmente, pois não sou no mundo, vou sendo... Me transformo como os retalhos; as sobras do que já fui se reciclam em novas idéias, em novos rumos... Seguir a partir deles é imperativo! Seguir para além do que carrego e trago em mim; para além do que me amarra e me determina; contagiar e ser contagiada! Como diz Foucault sobre o juiz - que ele quer ser absolvido pelo réu -, digo que o que queremos todos é a absolvição e o alívio de nossas prisões! O convite ao paraíso por mérito! No fim, ser agraciado com uma morte digna sujeita à compaixão dos demais, na certeza de termos levado uma vida de pessoa de "bem". Mas... "E se no 'bom' houvesse um sintoma regressivo, como um perigo, uma sedução, um veneno, um narcótico, mediante o qual o presente vivesse como que às expensas do futuro? Talvez de maneira mais cômoda, menos perigosa, mas também num estilo menor, mais baixo?... De modo que precisamente a moral seria culpada de que jamais se alcançasse o supremo brilho e potência do tipo homem? De modo que precisamente a moral seria o perigo entre os perigos?..." (Nietzsche). Se não existe um 'bem em si'; se o que expressamos e representamos são apenas convenções... Só há ordem de mim para mim mesma! Portanto, não espere de um "juiz", a absolvição. Lembre-se de Foucault: "O juiz quer ser absolvido pelo réu" e não o contrário!!!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um "sim" para a vida!

"Nós, que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós mesmos desconhecidos e não sem ter motivo. Nunca nós nos procuramos: como poderia, então que nos encontrássemos algum dia? Com razão alguém disse: "onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Nosso tesouro está onde se assentam as colméias do nosso conhecimento. Estamos sempre no caminho para elas como animais alados de nascimento e recolhedores do mel do espírito, nos preocupamos de coração propriamente de uma só coisa - de "levar para casa" algo. No que se refere, por demais, a vida, as denominadas "vivências" - quem de nós tem sequer suficiente seriedade para elas? Ou o suficiente tempo? Jamais temos prestado bem atenção "ao assunto": ocorre precisamente que não temos ali nosso coração - e nem sequer nosso ouvido! Antes bem, assim como um homem divinamente distraído e absorto a quem o sino acaba de estrondear fortemente os ouvidos com suas dozes batidas de meio-dia, e de súbito acorda e se pergunta "o que é que em realidade soou?", assim também nós abrimos às vezes, os ouvidos depois de ocorridas as coisas e perguntamos,surpreendidos e perplexos de tudo, "o que é que em realidade vivemos?, e também " quem somos nós realmente? e nos pomos a contar com atraso, como temos dito, as doze vibrantes campainhas de nossa vivência, de nossa vida, de nosso ser - ah! e nos equivocamos na conta... Necessariamente permanecemos estranhos a nós mesmos, não nos entendemos, temos que nos confundir com outros, e, em nós servirá sempre a frase que disse "cada um é para si mesmo o mais distante" continuamos a nos considerar "homens do conhecimento"". (NIETZSCHE, Genealogia da Moral, Prólogo)
O despertar não acontece, ele vem acontecendo... Minha caminhada começou em 1975. Mal nasci e já tinha endereço, telefone, nome, sobrenome e um número num livro. Me habituei a me expressar de determinada forma, por inúmeras razões; falo deste jeito e não de outro, pelas mesmas inúmeras razões. Estudei, me formei e trabalho. Faço isso: trabalho. Vou e volto todos os dias - passo oito horas lá; me relaciono com as pessoas, faço compras, pago contas, passeio, me divirto, repito coisas que ouço... Aprendo, repasso, planejo, sonho, mas quantas vezes me pergunto: "o que sou?" O que de fato sou? Sou matéria, pele, músculos, ossos, nervos, cabelo... Quando me alimento, a comida passa da boca, pela umidade e aspereza da língua, para a garganta e depois é processada e defecada (na melhor das hipóteses). Sou corpo, sou movimento; muitas células nascem e morrem em mim; há um dinamismo, ainda que eu esteja deitada e inerte; cresço, envelheço e morro, aos segundos, como tudo o que é vivo. Pois então, durante o tempo em que durar esta matéria orgânica que somos todos, talvez valha à pena se perguntar: "quem somos na realidade"? Para responder, minimamente, a esta pergunta, é necessário ser corajoso, pois significativa parte do que somos/estamos, prende-se a uma moral. O que pensamos, sentimos, dizemos (isso então..), sofremos, está atrelado, costurado fortemente a uma moral. Ou seja, a regras, a imposições, repressão e mutilação do corpo; tudo o que é externo à nossa existência - esta matéria rica, dinâmica e vigorosa, por excelência! Adiantamos nossa morte, porque vivemos na morte! Sim, somos os responsáveis por frear o dinamismo do nosso corpo, nossa vitalidade!! "O medo é o pai da moral", bem disse Nietzsche, e nos entregamos à ele com extrema confiança, acreditando mesmo que ele nos protegerá, nos salvará! E assim, doutrinados que somos, viciados em cartilhas que nos "ensinem" a viver, quando - com muita sorte e empenho - nos deparamos com a vida, com a energia vital, queremos morrer, pois não a suportamos, porque não a entendemos! Vivemos de estabelecer metas inatingíveis, porque a busca por algo que não seja o que somos nos faz parecer maiores, mais elevados, superiores... Há nobreza nisso, uma "alegria triste", segundo Deleuze. A castração de nossa capacidade de criar, de realizar algo de nossa potência é exercida pela moral, tão imanente dessa construção social na qual nos encontramos metidos. Uma potência realizada é uma possibilidade de produção de alegria, de estar em sintonia com nossa própria existência; é ser livre! Libertar-se deste concreto da moral é, pois, nossa única chance de "ser" no mundo!!

sábado, 17 de março de 2012

Poder e Potência

O caminho para o conhecimento é estrada sem volta repleta de desvios, atalhos, trechos que se encontram e se separam. Um passo dado em uma direção, te leva a outra, outras, e vamos nos “perdendo” de tal forma que não sabemos apontar de onde viemos, nem a partir de quais escolhas chegamos onde chegamos. E não paramos, seguimos. Há muito para ser visto, conhecido...
Estou finalizando minha dissertação de mestrado em ciências políticas e meu stricto tema, não tem nada de estrito... É bem lato!! Hobbes, Locke e Rousseau e o surgimento do Estado. Condição natural do homem, estado de sociedade, propriedade, liberdade, outorga de poder e por aí vai. Claro que os caminhos que me levaram à eles, também me levaram a outros. Claro, também, que não foram exatamente eles que me conduziram a outros caminhos e sim, outros caminhos... Por fim, somos uma colcha de retalhos, uma colagem nem sempre justaposta de tudo o que vem vindo desde quando nascemos e nos achamos metidos numa determinada circunscrição (filiação, família, cidade natal,amigos, hábitos...), ou seja, nesta paleta de combinações que nos representa e que por meio da qual nos representamos ao mundo. Somos plural!! Por isso não há o "eu". Somos várias vozes, vários retalhos numa combinação própria. Nestes cruzamentos de caminhos, que no meu caso me levaram ao direito, à ciência política, à Hobbes, Locke e Rousseau... Tb conheci Foucault, que me "desviou" para outro caminho. Familiarizada com a palavra poder, nada sabia sobre potência. E Foucault me levou a Deleuze (ou o contrário). Deleuze fala de Espinosa, que fala sobre potência, expressão da vitalidade de cada indivíduo; potência, potencial, possibilidades... "Efetuar algo de sua potência é sempre bom. O ruim é um grau menor de potência e este grau é o poder". Porque o poder separa as pessoas, pois se inscreve na moral, na culpa, na "dívida infinita" que temos que pagar, pois somos pecadores! Poder é exercer o controle; é negar o que somos; julgar o que é; "limpar", impor a ordem e excluir o que a ela se opõe ou dela se distingue. Percepção fantástica! Este entendimento acorda uma parte do meu cérebro, do meu corpo, que estava dormindo e me indica outros caminhos!

domingo, 4 de março de 2012

“Como dar um up grade na felicidade em 10 dias”


Vejo imagens... Pela internet, televisão, revistas, outdoors, lojas... Hoje tudo é foto, imagem, pose, glamour! E todo mundo é tão feliz, tão cheio de brilho, vitalidade! Ou será fotoshop?

Em uma fila de supermercado (daquelas de até 10 volumes) tenho tempo para pensar em coisas banais. Vejo as opções de periódicos... assim, en passant, e me dou conta de que todas as capas de revistas são iguais! I-GUAIS!!! Todas apresentam uma bela mulher, num belo corpo, com bela roupa e bem-sucedida - seja qual for o ramo (desde alguma “fruta” da estação até a tríade: atriz-modelo-cantora); dicas de como emagrecer MEGA rápido (em três meses, uma semana, três dias ou algumas horas) por razões variadas e absolutamente necessárias: “Perca peso para o verão, ou para o dia do casamento, ou para aquela festa de reencontro de ex-alunos, ou para melhorar a vida a dois, para melhorar sua imagem profissional...”; dicas de como “fisgar” um “bom-partido”, ensinando truques de beleza, sexo, comportamento... (devemos ser mocinhas comportadas, muito educadas e fazer tudo bem direitinho. Ah, e claro, sermos gostosas e safadas 'em quatro paredes'); dicas para descobrir o que “ele” espera de você (essa é demais!!! A revista responde o que “ele” espera de você!!!); e também dicas para entender o que você realmente quer da sua vida (em 10 itens selecionados pelos “famosos”) ahaahhahhahahehhehehehauauauauauauuauauauaua
(desculpem, não agüentei! Essa foi forte!) Depois vêm as experiências de vida de anônimos, chamados de “comuns”, como nós. Sim, porque, segundo a classificação das revistas, só existem dois tipos de pessoas: As celebridades e as comuns. Nestes relatos estampam imagens de pessoas que eram obesas e perderam 40 quilos, seguindo apenas “uma dica fácil” dada pela revista, recheados por depoimentos a respeito da infância e adolescência infelizes e a confissão de que eram virgens até emagrecerem! (Ohhhhhh a revista salvou a mocinha do celibato!) E para finalizar... RECEITAS CASEIRAS!!! Hahahahahahhahahahahahhahahahahhaha Massacram com dietas e imagens de mulheres magras, esbeltas (e por isso mesmo, bem sucedidas e felizes) e depois... Te socam comida goela abaixo!!! Hahahahhahahahahahahhahahaha “para agradar o maridão”!!! Muito bom, muito bom!!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma coisa é a lei, outra coisa é o resto!


Aqui no blog procuro me dedicar ao prazer de escrever sobre alguns de meus pensamentos, devaneios, medos, invenções. Gosto do som de algumas palavras, da leveza que me parecem ter. Adoro buscar melancolias dentro de mim, angústias, só para poder tentar falar a respeito. Chego a inventar sensações quando quero fazer uso de alguma expressão que talvez não vá combinar com outro contexto. Enfim, gosto do teatro das palavras! Da dramatização de um pensamento! Do exercício de poder ser outra pessoa, através do que escrevo, assim como o ator faz, ao interpretar uma personagem. Mas embora haja esse prazer todo no que costumo escrever aqui, grande e importante parte do que faço, fica de fora deste blog.

Trabalho como advogada e atendo à população mais carente da minha cidade. Há cinco anos tenho desenvolvido trabalhos em locais onde há grande violência, pobreza, desespero, medo e inúmeras dificuldades sociais, econômicas, de saúde... Meu trabalho é acolher, atender e, se possível, atenuar problemas. Difícil empreender todos os dias estas tarefas sem deixar de acreditar que, de alguma forma, sou capaz disso!

Ouço histórias o dia inteiro; relatos de vidas, de misérias e de muitos problemas; lamentos, lágrimas, pedidos, revoltas, mágoas, dor e esperança. São vozes que caminham comigo, mas não de maneira pesada e ruim. Nada disso! Elas ficam em mim para serem digeridas. Deste processo surgem idéias que às vezes geram soluções.

Me envolvo em cada uma delas, com cada uma das pessoas, inevitavelmente! E nem quero distanciamento de nada! “Manter uma distância segura”, nem sei o que é isso! Faço a advocacia que acredito, a única que sei fazer! E que se danem as convenções!

O trabalho é um constante laboratório pra mim. Me recuso a aceitar respostas prontas no Direito! Ah, faça-me o favor, estamos lidando com gente e gente muda! As necessidades mudam! O tempo muda! O Direito não pode ser tão engessado! Por esta razão mesmo, não posso aceitar só um caminho, só uma via! Há casos que pedem respostas alternativas, pedem mais do que o que já está pronto. Para estas situações, meus caros, o Direito fecha as portas.

Quando digo “O Direito” estou me referindo a tudo o que ele envolve e não só à lei, doutrina, jurisprudência, mas a tudo, todos os serviços, acessos, entendimentos...

E sabem o que vejo? Muitas pessoas não podem ingressar com suas demandas – e não ingressam mesmo – por NÃO TEREM TODA A DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA! Mas aí vocês podem me questionar: Pô, mas sem provas, fica difícil, né? E QUEM FALOU EM PROVAS? Estou falando de documentos absurdos, desnecessários, de exigências infindáveis e excessivas. Resumo: Quem é pobre tá lascado!

Muitas das pessoas que atendo já passaram pela Defensoria Pública, mas não abriram seus processos e não resolveram suas pendengas porque a quantidade de documentos era impossível de se produzir!

Eu ignoro solenemente muitas dessas exigências e só fico com as fundamentais. Providenciei até um formulário para atestar a residência de quem não tem como prová-la - e a maioria não tem mesmo – e dou entrada com o que temos. No desenrolar do processo, vou vendo no que dá; empurro goela abaixo! O Ministério Público só falta me exigir a tampa da margarina consumida no início do relacionamento para comprovar uma união estável, por exemplo! E a “prova inequívoca” de que a criança no ventre da mãe é mesmo do suposto pai, em casos de alimentos gravídicos? Ahhhhh tenha dó!

Num desses casos, aliás, de exigência de prova inequívoca na gravidez, o processo demorou tanto que a mãe ganhou a criança. Daí ela levou o bebê a audiência e eu o coloquei sobre a mesa e disse ao juiz, em tom maroto: “Eis aí a prova inequívoca, Excelência!”. Pelo menos renderam gargalhadas e, claro, a pensão.