Sei que meus leitores são em número maior do que os que se apresentam – e se expõem – com seus comentários. Como sei disso? Ora, eles me revelam sempre que me encontram! Dizem me acompanhar por aqui e se revoltam quando ficam sem notícias. Não é, tio Fofinho? Hehehe
Pois bem, aqui vão as notícias!
Conforme comecei a contar dias atrás, não foram poucas as emoções pelas quais passei o ano passado e início deste. O ano de 2010 começou em clima de restauração, repleto de possibilidades para a reconstituição da minha vida. O anúncio era bem bom e eu estava otimista.
Mas logo em março fui pega com uma bomba. O atendimento jurídico gratuito, um audacioso projeto social onde eu trabalhava no Rio, havia mudado de gestora e muita coisa passou a mudar desde então.
De início foi como uma ameaça de Tsunami que não vingou... Quase um boato! É que, embora a nova gestora já tivesse sido nomeada em Diário Oficial, na prática, nada mudou.
Após quatro anos de trabalho árduo e parceria imbatível, eu e minha grande amiga e companheira de trabalho, a antiga gestora, fomos separadas e sentimos muito toda aquela mudança.
No escuro, então, passei a caminhar.
Lá para o meio do ano a nova gestora convocou uma reunião e com alguma cautela e muita polidez achou por bem encerrar o projeto, pois o mesmo “não fazia mais parte da ideologia da atual gestão”. Enfim... Meu compromisso foi relatar todo o procedimento para o tal encerramento, desde as formalidades até o tempo que seria necessário para “apagar as luzes”.
Após recuperar os batimentos cardíacos e a circulação sanguínea saí de lá com a mesma sensação de “fim do mundo” que o advogado Kevin (Keanu Reeves) demonstrou em Advogado do Diabo, quando saiu do hospital, após perder sua esposa, para encontrar seu pai, O diabão representando por Al Pacino, naquela Nova York vazia de tudo! (Lembram da cena?) A “minha” Nova York foi a Presidente Vargas e naquele momento ela ficou completamente vazia!!
No dia seguinte, semiviva, fui trabalhar e rapidamente tratei de redigir um relatório completo com o número impressionante de 215 processos em andamento e 33 para serem abertos, já com papelada arrumada e tudo. E, em todos, eu teria que renunciar e ainda teria que explicar o “porquê” para cada uma daquelas mulheres. Meu Deus!! Minha nossa!! E a Dona Fulana, rapidamente pensei, como vai receber esta notícia? E a Dona Beltrana... Naquele estado em que ela se encontra ultimamente, em depressão... Conhecia a realidade e a história de cada uma delas!!! Vivi com elas muitas de suas dores e as ajudei a superar outras tantas!! Aquilo não podia estar acontecendo!!! Era choro misturado com raiva, acompanhados pelo receio de não dar tempo e de eu não ter forças para fazer tanta coisa ao mesmo tempo e, pelo visto, sozinha!!!
Prontamente fiz o tal relatório e exigi uma documentação para a finalização formal do projeto. Decidi só finalizar se tal documento me fosse entregue. Antes disso, nada de renúncia!! E por isso não falei nada a ninguém.
Mandei por email e esperei.
Durante vários dias fiquei colada em meu email, na expectativa de qualquer resposta, mas... Nada!! Nadica de nada!!! Desenvolvi até TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) de tanto ficar abrindo e fechando o Gmail. Que gastura!!
Então resolvi mandar mais emails, ratificando o relatório e o pedido da documentação para a finalização do projeto. Todos os emails eram enviados com cópias para as assessoras e a secretária e... NADAAAAA!!! Nenhuma resposta de ninguém!!! Cheguei a delirar com isso, a ter pesadelos e sonhos mirabolantes: “Será que o projeto havia mesmo terminado?? Será que aquela reunião fatídica tinha mesmo acontecido??”. Passei a duvidar do que tinha ouvido e minha sanidade ficou seriamente comprometida. Durante um bom tempo vivi num estágio entre a lucidez e a completa loucura!!
Os meses foram passando, precisei entrar de férias, voltei das férias e... NADAAAA!!
Já era dezembro de 2010 e o recesso forense batia às portas. A gente sempre fechava o expediente nesta época do ano. Precisava falar com ela e saber como ficaríamos!! Se Maomé não estava indo à montanha, não tinha outro jeito, a montanha aqui, teria que ir a Maomé!!
Fui pessoalmente falar com a nova gestora e lhe propus manter os processos que estavam em andamento, nem que fossem sob minha responsabilidade pessoal, como advogada (como disse, estava surtando mesmo!). A proposta, claro, foi aceita.
Que notícia esplendorosa!! Poderia manter os processos em andamento até que fossem finalizados e no início do ano, com o término do projeto, trabalharia com a antiga gestora, no setor onde eu sempre estive lotada. Se o término do projeto era inevitável, ao menos ele seria encerrado sem deixar nenhuma pendência. Naquelas circunstâncias essa possibilidade era a perfeição e eu até comemorei!!
A alegria, no entanto, durou pouco. A empresa pela qual eu trabalhava, terceirizada, encerrou o contrato e uma-torcida-do-Vasco-inteira foi demitida!! Era gente pra dedéu e nessa leva eu, e os 215 processos em andamento, fomos juntos.
Tentamos fazer com que eu ficasse... Em vão, não deu mesmo. E aos 02 de fevereiro de 2011 assinei meu aviso prévio e isso, lhes asseguro de coração, foi o que menos pesou. Minha “morte” já tinha sido anunciada bem antes disso!!
Após cinco anos de trabalho, em sete anos de existência do projeto, foi minha a missão de “apagar as luzes”.
Este projeto foi um grande encontro! Foi ali que me encontrei! Ou como eu mesma disse na despedida: Foi onde encontrei a oportunidade de ser a advogada que eu sempre quis ser!! Foi a semente encontrando o solo fértil!! Era O SONHO!!! E, cá entre nós, quantas vezes em um trabalho temos a oportunidade de fazer EXATAMENTE o que mais amamos??
Continua...
Mulherio das Letras
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