domingo, 4 de setembro de 2011

Parecia Aero, mas era Açude!


O ponto de ônibus é um lugar interessante. Embora existam muitos pelas cidades, e sempre com muitas pessoas amontoadas, é um espaço totalmente invisível para quem tem carro. Quase um não-lugar! Vemos todo mundo passar, mas ninguém nos vê ficar!

É comum nas embaraçosas - e chatas - conversas de ponto de ônibus perguntarmos ao nosso companheiro de cativeiro, qual o ônibus que ele espera. Aliás, é daí que as conversas geralmente começam. E quem conhece o circuito sabe que existem alguns ônibus que são bem, bem mais demorados do que outros; o que pode nos colocar em vantagem ou desvantagem perante os outros confinados. Eu, por exemplo, espero o Aero. Sim, este é o termo utilizado por nós: “espero”. Falamos como gestantes! E o Aero é muuuuuuito famoso pela sua clássica demora. É que existem linhas que temporariamente podem estar mais lentas, por estarem circulando com frota reduzida, em períodos de férias escolares, por exemplo. Mas este não é o caso do Aero. O Aero demora muito há décadas! Já conheci senhoras bem idosas que me disseram que quando faziam o trajeto, há muitos e muitos anos, ele já demorava muito. Entendeu? Por isso quando digo que espero o Aero, recebo sempre um olhar de piedade e às vezes uma palavra de incentivo: “Olha, desde que estou aqui, ele não passou”. Claro que nem ouso perguntar a quanto tempo a pessoa está esperando, que é para me manter firme e crente. Quem costuma dizer aquela frase: “quem espera sempre alcança”, não depende de ônibus! No caso do Aero, então, é quem espera, sempre espera mais um pouco!

Tenho, infelizmente, longa intimidade com este assunto, pois apesar de ter tirado a minha carteira de motorista há 14 anos, nunca dirigi mesmo, de verdade, no dia-a-dia. E embora não tenha desistido deste intento, ainda ando de ônibus e continuo invisível. Sujeita à chuva, à lama, quando os ônibus freiam em cima das poças, à espera, às conversas insuportáveis, ao frio, ao calor, enfim... Desgraça!!

O universo de quem vive dessa espera é tão limitado que, veja bem, ficamos completamente felizes e agradecemos aos céus, quando ele, o dito cujo, aparece. Soltamos gritinhos!!! “Ai, graças a Deus, Aero!”. É como ser resgatado do purgatório! Dá um alívio! Sem contar os inúmeros tiques que desenvolvemos. Um deles é a pescoçada! Sim, aquele hábito de ficar se levantando ou erguendo o pescoço para frente a fim de vermos melhor o ônibus que vem vindo. Chegamos a decorar todos os tipos de ônibus, cores, letreiros, intensidade de luz, para, mesmo de longe, termos condição de identificá-los e nos posicionarmos no melhor local para adentrá-los. O nome “Aero”, por exemplo, vem escrito bem no meio do letreiro, com luz branca, ao invés da amarela. São sinais que vejo de longe! Porém, existe o Açude, que também é um nome pequeno, que começa com “A” e que recentemente apareceu com a mesma configuração. Daí, como ele passa beeeeem mais vezes do que o Aero gasto muitas pescoçadas em vão e sempre chego em casa com dores. Vai vendo... Além desse tique desenvolvemos também transtorno obsessivo compulsivo - TOC. Quando vejo o Aero, em situações em que não estou no ponto à sua espera, tenho vontade de sair atrás dele. Por exemplo, quando estou num barzinho com meu namorado, ou no carro dele, vejo o Aero passar e sinto como se o tivesse perdido. Terrível, mas verdadeiro.

Para quem tem carro e quase nunca, ou mesmo nunca, andou de ônibus os pontos de ônibus são nada. Nunca param para pensar neles ou em quem está neles e provavelmente acreditam que, caso precisassem, um dia quem sabe, enfrentariam isso fácil, que é uma reclamação idiota. Por isso, em sua maioria, são tão sem educação com os que esperam, jogando água/lama em quem não tem para onde correr, negando a preferência para atravessar a rua...

Então vai aí uma dica para você, motorizado sem coração. Quando puder oferecer uma carona a um amigo, OFEREÇA!! Por mais que te dê algum trabalho, que te faça perder uns minutinhos, isso não é nada perto de quem espera 1h e 30min num ponto, parado. Preste mais atenção à sua volta e resgate um amigo do purgatório! Isso vale também para parentes e vizinhos, que são os campeões do ranking.








4 comentários:

  1. Prometo que vou passar pelos pontos de ônibus observando quem está. Até porque, dar carona pra você não me fará perder muito tempo.. hehe!

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  2. Minha amiga Carol Galdeano mandou por email:

    Caroooool,
    Genial amiga.
    Aqui em Vitória estou começando a colecionar aventuras de pontos de ônibus... Aqui só é pior, pq ninguém sabe nada sobre os ônibus, fico louca até descobrir como chegar nos lugares. Para se ter uma idéia, nem motorista nem cobrador, ponto eles só conhecem de ônibus mesmo, pq se lhes der um de referência ninguém sabe onde fica.
    Outro dia perguntei a um trocador se o onibus passava em frente a prefeitura de Vitória... Hã? Ele disse que não sabia!!!
    Chocante.
    Mas com relação às caronas, não custa nada oferecer, pricipalmente a vizinhança, pelamordedeus, quantas vezes já passaram por mim, buzinaram e deram tchauzinho... mas carona é raro viu.
    Adorei a história da sensação de perder o onibus quando ele passa, mesmo que não vá pagá-lo... é assim mesmo.
    E re-al-men-te, quem anda de carro sabe que é isso não amiga!!
    Saudades demais.
    Sexta de manha chego em VR, vamos marcar algo.
    Te amo de montão.
    Bjs

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  3. Carol, os ônibus do Aero são pequenos, que não possuem cobrador. Já o Casa de Pedra, o Açude,...

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